segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Febeapá: Produtividade do Governo Cresce Mais do Que a do Setor Privado, Segundo o IPEA

Em recente Comunicado da Presidência, o IPEA divulga estudo que mostra que a produtividade do governo cresceu mais do que a do setor privado nos últimos anos. Curioso é que governos estaduais que se engajaram em reformas estruturais, justamente para aumentar a sua produtividade, não alcançaram seus objetivos, segundo o IPEA.
O problema é que os técnicos do IPEA cometeram um erro elementar de análise. Vale a pena discuti-lo para que estudantes de economia não comprometam suas carreiras cometendo deslizes desta magnitude. O Estadão analisa a dimensão política do problema, enquanto que o Alex o disseca com a profundidade de sempre.
O problema elementar é não entender os dados e atribuir a eles significados exóticos. O IPEA usa dados de valor agregado das contas nacionais, elaborados pelo IBGE, para chegar às suas conclusões. Ocorre que estimativas de valor adicionado (como os componentes do PIB, no caso), só têm sentido quando estimados a preços de mercado, que refletem valores sociais. É o velho princípio da mão invisível de Adam Smith, que justifica a produção de tais estimativas. Entretanto, existem algumas dificuldades na produção destas estimativas. Como incluir nelas vários bens e serviços, na ausência de preços de mercado, como por exemplo educação pública e outros bens e serviços produzidos pelo governo? Neste caso, a estimativa é feita pelo custo de produção, como salários, etc. Aí é necessário fazer a pergunta que os técnicos do IPEA ignoraram: gastos do governo, mensurados pelo seu custo, refletem valor adicionado? Para os técnicos do IPEA, quando o Senado paga horas extra em período de recesso parlamentar, ele está apenas aumentando sua produtividade! Esta bizarra conclusão decorre do erro elementar dos técnicos do IPEA, que é o de não entender o significado de estatísticas.

2 comentários:

Alex disse...

Grande Ronald!

Só para atribuir a quem é de direito a dissecação do argumento. É da assessoria do Senador Tasso Jereissati, que imagino ser o Samuel.

E a responsabilidade é do presidente do Ipea. Nos comentários ao post a que você se refere há pessoas que se dizem do Ipea (estão como anônimos, então não posso assegurar) afirmando que houve alertas por parte do corpo técnico, devidamente ignorados.

Abração

Alex

Ronald Hillbrecht disse...

Alex,

Realmente, o argumento original é da assessoria do Tasso, mas ressalto sua contribuição por ter colocado-o no seu blog, fato que tornou-o mais conhecido no circuito de economistas. Adicionalmente, justiça seja feita, quando me referi a "técnicos do IPEA", me referi àqueles que elaboraram o fatídico documento, não àqueles de pesquisadores carreira e de boa formação, que ao longo dos anos têm contribuido para a grande reputação e elevada respeitabilidade do IPEA. A nota vale ainda como alerta para os danos que a má formação em economia conjugada com militância política são capazes de provocar em ambientes mais idôneos.

Grande abraço,

Ronald Hillbrecht