Imagine um político que se considera semileigo em economia, outro considerado por muitos um grande mestre no assunto e um jornalista econômico de um jornal de grande circulação. Quando postos frente ao gráfico ao lado e perguntados sobre a relação entre moeda e preços, muito provavelmente demonstrarão a mesma perplexidade de um cidadão comum, sem nenhuma formação em economia.
- É claro que não há nenhuma relação entre estas duas variáveis, diz o articulista. Os dados falam por si: preços sobem e a oferta de moeda permanece constante. Se o governo quiser controlar preços e a taxa de inflação, deve fazê-lo com medidas heterodoxas, como congelamento de preços, e não elevando a taxa de juros.
- É mais do que evidente que os economistas ortodoxos estão errados quando querem independência do banco central, diz o semileigo. Nas fileiras do meu partido, os economistas entendem as evidências empíricas e não seguem esta cartilha neoliberal.
- Meu caro Clóvis, há muito tempo eu próprio venho alertando a Presidência da inconsistência da política econômica, diz o grande mestre. O problema está na teoria quantitativa da moeda, obsoleta desde David Hume. O que existe de fundamentalmente errado na teoria econômica atual é o excesso de matemática, que cega o economista à realidade dos fatos. Veja esta obsessão com o câmbio, por exemplo. Por que deixá-lo flutuar livremente quando esta política de juros altos, baseada na teoria quantitativa, provoca tantos danos à indústria nacional?
- Não vejo nenhuma relação, diz o cidadão comum.
Mas o tempo vai passando e novas observações empíricas são adicionadas ao nosso gráfico, que agora ficou assim. Os nossos heróis bem podem tê-lo entendido da seguinte maneira:
- Existe um caráter meramente aleatório na relação entre oferta de moeda e inflação, diz o articulista. Foi um leitor da minha coluna que me explicou isto.
- O que este gráfico nos diz é óbvio: os preços e a inflação começam a subir antes da oferta de moeda, diz o semileigo. É claro então que é a inflação que determina a oferta de moeda e, de acordo com o companheiro Mercadante, é mais um motivo para que devamos controlar os preços de forma direta. Aí sim é que a oferta de moeda estará sob controle. Fazer o contrário só causa recessão, sem efeitos sobre a taxa de inflação.
- Meu caro Clóvis, a economia está longe de ser uma ciência exata, diz o grande mestre. A relação entre moeda e inflação muda ao longo do tempo, de forma que nenhum modelo matemático consegue explicar. Keynes foi o maior economista do século XX e nunca se preocupou com estas bobagens matemáticas. O fato é que, com esta relação instável da política monetária com a taxa de juros e inflação, é um erro de proporções catastróficas deixar o câmbio apreciar desta forma. Keynes entendeu bem o problema da instabilidade monetária e sua relação com a armadilha da liquidez. Com toda esta liquidez internacional, deixar o câmbio flutuar é entrar na própria armadilha!
- Sei lá, diz o cidadão comum.
Em 1981 Thomas Sargent e Neil Wallace publicaram um importante artigo, que mostrou que em certas condições política monetária restritiva hoje causa maior inflação hoje. Os gráficos acima foram elaborados com base em uma versão muito simplificada do modelo original, mas que no entanto mantém o resultado original. Esta versão depende apenas de duas equações: o equilíbrio monetário e uma regra de política monetária. As equações são as seguintes:
- equilíbrio monetário (em log): (m_t - p_t) = -alpha*(p_t+1 - p_t)
- Regra de política monetária:
m_t = m0 para t = 1, 2, ..., n-1
m_n+i = m1 + gama*i para i = 0, 1, ...
Para os alunos das disciplinas de Tópicos Especiais de Macroeconomia e Economia Monetária II, uma proposta: os três primeiros alunos em cada disciplina que derivarem corretamente a trajetória do nível de preços, terão um indulto para a primeira prova da disciplina.
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