Último sábado assisti um programa de debates (Painel, Globo News), onde um dos debatedores era um renomado cientista político brasileiro. Me chamou a atenção um comentário que revela quão diferentes são as percepções da realidade, entre as profissões de ciência política (tradicional) e economia (convencional). O renomado debatedor argumentou, entre outras coisas, que aos Estados Unidos interessam acordos de livre comércio pois são mais competitivos em tudo, sugerindo que não era portanto da conveniência da América Latina buscar tais acordos. Aqui é que reside a divergência dessa forma de pensar com o conhecimento convencional de economia.
São dois, na verdade, os pontos de discordância. Traduzindo para a linguagem de economia, o nobre cientista político consegue enxergar vantagens absolutas mas não vantagens comparativas, coisa que, desde David Ricardo até os livros texto de introdução à economia, faz parte do arsenal explicativo dos economistas. Adicionalmente, o ilustre cientista político parece professar a idéia de que relações internacionais são um jogo de soma zero, onde os ganhos de um lado são as perdas do outro. Economistas, ao contrário, vêem comércio internacional (ou qualquer outra troca voluntária, com direitos de propriedade bem definidos) como um jogo cooperativo de soma positiva.
Essas diferentes percepções são significativas e motivam políticas praticamente antagônicas. O fato é que duas coisas conspiram contra a ciência política tradicional, pelo menos neste caso: evidências empíricas são favoráveis à interpretação de economia e, em decorrência disso, o método de economia de escolha racional está invadindo bons departamentos de ciência política mundo afora. Em outras palavras, ciência política está cada vez mais parecida com economia convencional. Pena que profissionais influentes permaneçam imunes à esta mudança de paradigma, pois, caso contrário, a qualidade de nossas discussões e políticas poderia sofrer um ganho substancial.
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