sexta-feira, 19 de março de 2010

História do Empreendedorismo no Brasil

O livro "História do Brasil com Empreendedores", de Jorge Caldeira, tem os ingredientes para ser uma daquelas obras que mudam a maneira como vemos e interpretamos a história, como aponta o artigo de Fernão Lara Mesquita, no Estadão. Em primeiro lugar, porque mostra que, no Brasil colonial, não apenas existiam empreendedores, mas como eles eram parte essencial da economia brasileira na época, refutando a tese do modelo do latifúndio escravocrata exportador, muito difundida entre historiadores brasileiros. Em segundo lugar, porque apresenta uma análise sobre as origens das estatolatrias de direita e de esquerda no país. Surpreendentemente (para alguns), ambas bebem da mesma fonte:

As estatísticas apresentadas no primeiro capítulo já bastariam para demolir esse mito. Em 1819 a colônia tinha 4,39 milhões de habitantes; 74,8% eram colonos e índios (aculturados) livres; 25,2% eram escravos africanos. Só 220 mil homens livres eram proprietários. Dois milhões duzentos e vinte e seis mil homens livres, 91% do total, não tinham escravos. Perfaziam 62% da população. E como havia muito poucos assalariados, conclui-se que esse contingente, que vivia para e do mercado interno, era dono de seus meios de produção. O mercado interno movimentava, nessa época, 84% do total da economia (86,7% em 2008).

"Havia, portanto, no Brasil colonial, uma sociedade aberta capaz de receber e abrigar pessoas dispostas a enriquecer (...) na qual o casamento era também um meio de ascendência (...) a maioria da população livre era constituída de mestiços."

Caldeira apresenta personagens fascinantes para apoiar essa afirmação. Mas o que há de mais saboroso no livro é a investigação da origem da ideia que, transformada numa espécie de "cláusula pétrea" de qualquer tentativa de explicação do Brasil, continua entortando o País até hoje.

Partindo da origem da fortuna dos Prados, fruto de privilégios outorgados pelo rei, Caldeira revive as reuniões na casa de Paulo, o tio intelectual que o adolescente Caio frequentava, das quais Oliveira Vianna, cujas teorias viriam, mais adiante, a inspirar o Estado Novo getulista, era o principal animador. Transcrevendo, lado a lado, trechos-chave de Evolução Política do Brasil, publicado em 1933 pelo jovem Caio, então com 26 anos, e de Evolução do Povo Brasileiro, publicado por Oliveira Vianna em 1922, Caldeira demonstra, pela palavra de ambos, que um tomou do outro, quase textualmente, os conceitos fundamentais.

Têm, portanto, raízes idênticas a estatolatria da direita e a da esquerda brasileiras.

Cruzando a data de publicação com cartas do próprio Caio, Caldeira demonstra, ainda, que, quando escreveu o livro fundador da "interpretação marxista" do Brasil, o jovem milionário paulistano nunca tinha lido Marx...

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