segunda-feira, 3 de maio de 2010
Estado Mínimo e Patrimonialismo
Este é o título de bom artigo do Pedro Cavalcanti Ferreira no Estadão de hoje. Tece considerações sobre o maniqueísmo ideológico vigente nas discussões sobre o papel do estado na economia, que afasta toda e qualquer possibilidade de diálogo inteligente e visa escamotear as brutais transferências de renda e concessões de privilégios que fazem parte da nossa tradição política. O artigo é bom por levantar tal ponto de vista, mas deixa a desejar em outro aspecto importante pois, ao descrever avanços recentes da teoria econômica, ignorou completamente as contribuições da teoria da escolha pública e da moderna economia política. Explico: PCF discorre sobre falhas de mercado - a mão invisível de Adam Smith não funciona perfeitamente bem - para justificar intervenção do governo em diversas atividades, que vão de educação a regulação de mercados. O problema é que ele simplesmente ignora que a teoria econômica atual não justifica estas intervenções da forma como ele propõe, pois existem falhas de governo - como aquelas que PCF devidamente aponta ao longo do texto - que impedem o uso de soluções eficientes e que são foco de estudo da teoria econômica. Em suma, a existência de falhas de mercado não é suficiente para justificar ação de governo, é necessário mostrar que sua intervenção melhora a situação em questão. Uma discussão racional sobre o papel do estado na sociedade deve necessariamente ponderar o trade-off entre falhas de mercado e falhas de governo e reconhecer que, devido às imperfeições de ambos, escolher uma solução utópica, perfeita e ideal pode significar, na prática, a imposição de um mundo muito pior do que o factível.
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