domingo, 24 de junho de 2012

Rio+20: Um Fracasso Histórico?

Esta parece ser a perspectiva de Jagdish Bhagwati:

"If George Orwell were alive today, he would be irritated, and then shocked, by the cynical way in which every lobby with an axe to grind and money to burn has hitched its wagon to the alluring phrase “sustainable development.” In fact, the United Nations’ Rio+20 Conference on Sustainable Development is about pet projects of all and sundry – many of them tangential to the major environmental issues, such as climate change, that were the principal legacy of the original Rio Earth Summit."

domingo, 17 de junho de 2012

A Origem do Estado: Expropriação e Transparência da Atividade Econômica

Interessante artigo que argumenta que a origem do estado está relacionada ao surgimento da agricultura, que torna a atividade econômica mais visível (e expropriável). Embora este argumento não seja novo, vale a pena ler o artigo pela boa mistura de teoria e história econômica.

"We propose a general theory that explains the extent of the state and accounts for related institutions as byproducts of the state’s extractive capacity. We posit further that this capacity is determined by the transparency of the production technology. First, we apply our proposed theory in identifying the link between the Neolithic Revolution and the emergence of the state. We argue that the common explanation that emphasizes the availability of food surplus is flawed, for it ignores Malthusian considerations. In contrast, we suggest that what led to the emergence of the state was the greater transparency of farming. Second, we show that variations across regions in the transparency of the production processes can explain differences in institutions, such as land tenure, and in the scale of the state. We then apply our theory to explain the institutional features that distinguished ancient Egypt from ancient Mesopotamia."

Cartão de Crédito Karl Marx


Existem coisas que o dinheiro não pode comprar. Especialmente quando a propriedade privada é abolida.

Membros da Vanguarda acumulam o dobro de pontos.

Aproveite os benefícios do determinismo histórico: crédito pré-aprovado, taxas de juros pré-determinadas e parcelamento automático.

Programa especial "Participação e Solidariedade" de ajuda internacional: Doando pontos, você ajuda a dar sobrevida aos regimes comunistas de Cuba e Coréia do Norte. 

Com o cartão de crédito Karl Marx, nunca foi tão fácil participar da luta de classes, nem tão divertido: com 100.000 pontos acumulados, você recebe as medalhas Lenin de honra ao mérito, para usar com a  companheirada! (máximo de três medalhas por cartão. Consulte o site para outras promoções e restrições).

sexta-feira, 15 de junho de 2012

É a História, Estúpido!

Na investigação sobre os principais determinantes do desenvolvimento econômico, a literatura corrente tem dado ênfase à geografia e instituições. Mas as raízes do desenvolvimento podem estar relacionadas com história, como argumentam Enrico Spolaore e Romain Wacziarg. O abstract de seu interessantíssimo artigo segue:

"The empirical literature on economic growth and development has moved from the study of proximate determinants to the analysis of ever deeper, more fundamental factors, rooted in long-term history. A growing body of new empirical work focuses on the measurement and estimation of the effects of historical variables on contemporary income by explicitly taking into account the ancestral composition of current populations. The evidence suggests that economic development is affected by traits that have been transmitted across generations over the very long run. This article surveys this new literature and provides a framework to discuss different channels through which  intergenerationally transmitted characteristics may impact economicdevelopment, biologically (via genetic or epigenetic transmission) and culturally (via behavioral or symbolic transmission). An important issue is whether historically transmitted traits have affected development through their direct impact on productivity, or have operated indirectly as barriers to the diffusion of productivity-enhancing innovations across populations."

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Elinor Ostrom

Faleceu ontem Elinor Ostrom, Nobel em Economia em 2009. Sua grande contribuição foi mostrar que arranjos alternativos a mercados e governos para resolver o problema da "tragédia dos comuns" são possíveis e desejáveis. Tais arranjos dizem respeito a auto-organização de grupos com o estabelecimento de regras de acesso. Como ela mesmo explica em Governing the Commons:

"The term “common-pool resource” refers to a natural or man-made resource system that is sufficiently large as to make it costly (but not impossible) to exclude potential beneficiaries from obtaining benefits from its use. 

Instead of presuming that the individuals sharing a commons are inevitably caught in a trap from which they cannot escape, I argue that the capacity of individuals to extricate themselves from various types of dilemma situations varies from situation to situation. The cases to be discussed in this book illustrate both successful and unsuccessful efforts to escape tragic outcomes. 

Institutions are rarely either private or public -- "the market" or "the state." Many successful CPR intitutions are rich mixtures of "private-like" and "public-like" institutions defying classification in a sterile dichotomy. By "successful," I mean institutions that enable individuals to achieve productive outcomes in situations where temptations to free-ride and shirk are ever present. A competitive market -- the epitome of private institutions -- is itself a public good."

Para conhecer melhor o trabalho de Elinor Ostrom,  recomendo os seguintes links: Paul Romer, Vernon Smith e Alex Tabarrok.

P.S. O site da Indiana University em sua homenagem é referência obrigatória.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Perda de Dinamismo

Excelente artigo de Affonso Celso Pastore. Tão bom que vale a pena reproduzi-lo na íntegra.

O Estado de S. Paulo - 03/06/2012
 
Em 2012, o Brasil deverá crescer abaixo de 3%, e as perspectivas nos anos seguintes são de crescimentos inferiores às metas do governo. Primeiro, porque não poderemos mais contar com a forte expansão do consumo que foi o motor de ampliação da demanda nos últimos anos. Segundo, porque há uma perda de competitividade da indústria, que vem mantendo a produção estagnada desde o início de 2010. Terceiro, porque somando o desestímulo da menor expansão do consumo às incertezas da crise internacional, as perspectivas são de uma fraca formação bruta de capital fixo.
Nos últimos anos, o consumo das famílias beneficiou-se da ampliação do crédito pessoal, mas isso levou a um endividamento excessivo. Em 2005, o endividamento das famílias estava em torno de 20% da renda disponível, escalando para mais de 42% da renda disponível em 2012. Nos EUA, o endividamento das famílias atualmente supera 110% da renda disponível. Mas, se excluirmos as dívidas com hipotecas, ele chega apenas a 20%, sendo menor do que no Brasil.
A diferença mais importante, contudo, não se refere ao estoque da dívida, e sim ao comprometimento de renda na amortização do principal e no pagamento de juros. No Brasil, o comprometimento de renda situa-se atualmente em 22% da renda disponível, e nos EUA, incluindo automóveis e hipotecas, chega a 16%, menor do que no Brasil.
Dizer que o endividamento é excessivo é equivalente a afirmar que uma parcela muito grande da renda futura foi gasta no presente, o que obviamente reduz o crescimento do consumo no futuro. Há, por outro lado, claros limites ao aumento do endividamento nos próximos anos. Se, para acelerar as novas concessões de crédito, os bancos insistissem em financiar as compras de automóveis sem entrada e a prazos longos, como ocorreu até o final de 2010, a inadimplência continuaria a crescer, superando os níveis atuais já elevados.
O governo pode pressionar os bancos privados a emprestarem mais, mas, diante dos elevados níveis de inadimplência, estes não podem acelerar as novas concessões de crédito. Ao contrário, em casos extremos, como é o dos automóveis, estas terão de ser reduzidas até trazer a inadimplência a níveis toleráveis. Murchou, dessa forma, uma fonte de crescimento da demanda que foi muito importante nos últimos anos.
Ao lado da perda de dinamismo do consumo, o governo enfrenta o problema da estagnação da produção industrial. A baixa taxa real de juros não consegue estimular a indústria, mas estimula o setor de serviços, que é muito maior do que a indústria e emprega três vezes mais mão de obra. Isso sustenta a taxa de desemprego no mínimo nível histórico, e eleva os salários reais. A indústria fica apertada entre dois polos. Sofre, de um lado, o empurrão de custos gerado pela elevação dos salários, que poderia ser menor caso a produtividade média do trabalhador na indústria estivesse se elevando. Mas, infelizmente, essa produtividade não cresce, e como a indústria é um setor muito aberto ao comércio internacional, enfrenta a competição das importações, que limitam a sua capacidade de repassar os aumentos de custos para preços. Presa entre o aumento do custo unitário da mão de obra e a competição das importações, a indústria vê suas margens se estreitarem, desestimulando a produção, que persiste estagnada mesmo diante das baixas taxas reais de juros.
Câmbio. A solução encontrada pelo governo para enfrentar este problema foi enfraquecer o real. Para que essa ação tenha eficácia, contudo, é preciso que ocorra a depreciação do câmbio real - o preço relativo entre bens comercializáveis e não comercializáveis -, o que significa, em última instância, elevar a relação câmbio/salários. Todas as ações do governo têm sido na direção de gerar aumento dos salários, e não dá indicações de que deseje abandonar essa conduta, porque vê nela uma forma de estimular o consumo.
Ao produzir ao mesmo tempo a depreciação cambial e a elevação de salários, provoca a limitação do crescimento da relação câmbio/salários. Com isso, obtém-se uma depreciação menor do câmbio real, impedindo que haja o ganho pleno de competitividade pretendido, mas colhe-se, em contrapartida, o aumento do risco inflacionário, que é potencializado pela combinação do câmbio nominal mais depreciado com a elevação dos salários. Se insistisse em depreciar ainda mais o real, geraria o crescimento maior da inflação, que somente não ocorre, no curto prazo, devido ao crescimento econômico medíocre.
O terceiro problema é a desaceleração da formação bruta de capital fixo. Para estimular os investimentos, os juros reais vêm sendo reduzidos. Ocorre que os investimentos em capital fixo não dependem apenas da taxa real de juros, mas também, e principalmente, das expectativas de ampliação da demanda futura, da qual depende a taxa de retorno sobre as adições ao estoque de capital fixo. Para estimular os investimentos, é preciso que os empresários visualizem a oportunidade de elevar de forma segura os retornos sobre as máquinas que estão comprando. Significa que têm de estar razoavelmente seguros sobre a ampliação da demanda.
Infelizmente, há três forças reduzindo as expectativas de ampliação de demanda futura. No plano interno, cresceu a percepção de que, por algum tempo, não se poderá atingir a velocidade de crescimento do consumo que ocorreu até recentemente, ao que se soma o desânimo derivado da perda de competitividade da indústria. No plano externo, as incertezas da economia internacional tornam muito arriscadas as apostas na ampliação de capacidade produtiva. Na presença da incerteza e do baixo crescimento do consumo, a redução da taxa real de juros perde eficácia em ampliar a demanda de investimentos.
Em um caso como este, o instrumento para estimular a demanda é a política fiscal. Não nos referimos a essa política fiscal atabalhoada, que reduz um imposto aqui e cria um estímulo acolá, movendo-se ao sabor das pressões que recebe do setor privado, e sim a uma mudança na composição dos gastos públicos. O governo optou por minimizar os investimentos em infraestrutura, dando prioridade às transferências de renda e às ampliações dos gastos correntes, e teria de alterar radicalmente esse padrão de gastos, elevando os investimentos em infraestrutura em proporção aos gastos correntes.
Além de diretamente ampliar a demanda e a capacidade produtiva, geraria externalidades que estimulariam os investimentos privados. Para elevar a potência desse instrumento, deveria atrair maior participação do setor privado nos investimentos em infraestrutura, o que requer ações para a remoção de riscos regulatórios, voltando ao modelo de agências reguladoras que havia sido implantado no governo FHC, e que foi desmontado nos últimos anos. Mais capital privado se somaria ao esforço do governo, e colheríamos uma ampliação dos investimentos em infraestrutura.
O mais provável, no entanto, é que, ao reconhecer que a política monetária perdeu eficácia, o governo seja tentado a pura e simplesmente reduzir o superávit primário. O cuidado que tem de ser tomado, neste caso, é que o Brasil ainda tem uma dívida pública muito elevada, que saiu das manchetes dos jornais nos últimos anos, mas da mesma forma como voltou às manchetes na Europa, pode retornar no Brasil. Por isso, é recomendável que não se abandonem as metas para o superávit primário. Mas em vez de mantê-la rígida, o que faz com que acentue as oscilações cíclicas da economia, deveríamos defini-la no ponto médio do ciclo econômico, reduzindo os superávits em períodos de queda do crescimento, e ampliando-o nas fases de aceleração, transformando-o em um instrumento contra cíclico. O Chile é um exemplo. Antes de qualquer mudança na magnitude dos superávits atuais, o governo teria de estabelecer as regras sobre como fixaria as oscilações cíclicas dos superávits, de forma a evitar a volta da percepção de riscos sobre o crescimento da dívida.