segunda-feira, 29 de março de 2010

Entrevista com Gary Becker

Em entrevista no WSJ, Gary Becker revela ser "basicamente otimista", no que diz respeito à proteção de liberdades individuais. Alguns excertos da entrevista:

I begin with the obvious question. "The health-care legislation? It's a bad bill," Mr. Becker replies. "Health care in the United States is pretty good, but it does have a number of weaknesses. This bill doesn't address them. It adds taxation and regulation. It's going to increase health costs—not contain them."

"During the financial crisis," he replies, "the government and markets—or rather, some aspects of markets—both failed."

"I learned from Milton Friedman that from time to time there are going to be financial problems, so I wasn't surprised that we had a financial crisis. But I was surprised that the financial crisis spilled over into the real economy. I hadn't expected the crisis to become that bad. That was my mistake."

Once again, Mr. Becker reflects. "So, yes, we economists made mistakes. But has the experience of the past few years invalidated the finding that markets remain the most efficient means for producing economic growth? Not in any way.

My last question involves a little story. Not long before Milton Friedman's death in 2006, I tell Mr. Becker, I had a conversation with Friedman. He had just reviewed the growth of spending that was then taking place under the Bush administration, and he was not happy. After a pause during the Reagan years, Friedman had explained, government spending had once again begun to rise. "The challenge for my generation," Friedman had told me, "was to provide an intellectual defense of liberty." Then Friedman had looked at me. "The challenge for your generation is to keep it."

What was the prospect, I asked Mr. Becker, that this generation would indeed keep its liberty? "It could go either way," he replies. "Milton was right about that."

Mr. Becker recites some figures. For years, federal spending remained level at about 20% of GDP. Now federal spending has risen to 25% of GDP. On current projections, federal spending would soon rise to 28%. "That concerns me," Mr. Becker says. "It concerns me a great deal.

"But when Milton was starting out," he continues, "people really believed a state-run economy was the most efficient way of promoting growth. Today nobody believes that, except maybe in North Korea. You go to China, India, Brazil, Argentina, Mexico, even Western Europe. Most of the economists under 50 have a free-market orientation. Now, there are differences of emphasis and opinion among them. But they're oriented toward the markets. That's a very, very important intellectual victory. Will this victory have an effect on policy? Yes. It already has. And in years to come, I believe it will have an even greater impact."

The sky outside his window has begun to darken. Mr. Becker stands, places some papers into his briefcase, then puts on a tweed jacket and cap. "When I think of my children and grandchildren," he says, "yes, they'll have to fight. Liberty can't be had on the cheap. But it's not a hopeless fight. It's not a hopeless fight by any means. I remain basically an optimist."

quinta-feira, 25 de março de 2010

Pré-Sal: A Mãe de Todas as Maldições

Ótimo artigo do Rogério Werneck, da PUC-RJ, que argumenta que, no caso do pré-sal, o encontro das maldições dos recursos naturais e dos recursos políticos desemboca na maldição do neo-desenvolvimentismo e da substituição de importações. Aí vai o artigo na íntegra.

Descaminhos do pré-sal

Os projetos do pré-sal têm agora de passar pelo Senado, onde a discussão não promete ser fácil. Na Câmara, houve um incidente grave, perfeitamente previsível, mas que não havia sido contemplado pelos grandes estrategistas da Comissão Lobão-Rousseff, que concebeu os projetos do pré-sal. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com as tensões do federalismo fiscal brasileiro sabia que a idéia de reabrir a caixa de Pandora da distribuição de royalties, em pleno ano eleitoral, era desavisada.
Açulado o vespeiro federativo, o governo perdeu o controle da situação e deixou a Câmara aprovar uma regra de distribuição de royalties que deflagrou clima de revolta nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O incidente deixou em pé de guerra não só os governadores Sérgio Cabral e Paulo Hartung, como os seis senadores dos dois Estados, todos da base governista. O que sugere que a tramitação dos projetos do pré-sal no Senado será ainda mais difícil do que o governo temia. Mas isso talvez permita que a questão do pré-sal seja afinal discutida com a seriedade que merece. E que os equívocos dos projetos do governo sejam explicitados e, quem sabe, até corrigidos em alguma medida.
A concepção de como regular e estruturar a exploração do pré-sal e repartir os ganhos envolvia um desafio de ação coletiva que deveria ter sido enfrentado num plano suprapartidário, como questão de Estado. O governo, contudo, preferiu partidarizar a questão e brandi-la como trunfo eleitoral, certo de que sua base de sustentação no Congresso lhe permitia prescindir da oposição.
O que o governo quer extrair do Senado é a aprovação de um arranjo indefensável, que concede a uma empresa com mais de 60% do capital detido por acionistas privados – a Petrobrás – o monopólio de operação nos campos do pré-sal e uma participação de pelo menos 30% em cada consórcio que vier a explorar tais campos. Alega-se que, sem tais privilégios, a Petrobrás não poderá atingir a escala necessária para cumprir a “missão” que lhe teria sido atribuída: a de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no País.
O que se contempla é a formação de um grande cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos, em que a Petrobrás deteria “o cofre das graças e o poder da desgraça”. Uma espécie de coronelismo industrial. Caso essa idéia prospere, pode-se imaginar o tamanho da conta. Basta ter em mente, por exemplo, que a Petrobrás está licitando nada menos que 28 sondas marítimas de perfuração de alta tecnologia e exigingo que todas elas sejam produzidas no País. Salta aos olhos que tal exigência deverá implicar enorme e injustificável encarecimento do programa de investimento no pré-sal. Parte substancial do excedente da exploração, a que o governo poderia dar destino mais nobre, será alegremente dilapidada na
satistação de fantasias acalentadas na Avenida Chile sobre as virtudes nirvânicas da autosuficiência do País na produção de equipamentos.
O pior é que um equívoco leva a outro. Desnecessariamente sobrecarregada com o monopólio da operação, a obrigação de deter 30% de cada consórcio e a “missão” de desenvolver a indústria de equipamentos, a Petrobrás teria de ser capitalizada pelo Tesouro. O aporte do Tesouro, da ordem de US$ 40 bilhões, seria feito por meio da entrega à Petrobrás, sem licitação, de reservas de 5 bilhões de barris no pré-sal pertencentes à União. Argúi-se que, feito dessa forma, o aporte não traria grande ônus ao Tesouro.
O argumento não faz sentido. Se de fato os 5 bilhões de barris valem o que se alega, o governo poderia licitá-los e obter US$ 40 bilhões. Teria então de decidir se o melhor uso que o Tesouro poderia dar aos US$ 40 bilhões seria destiná-los à capitalização da Petrobrás, para que a empresa possa arcar com os investimentos com que o próprio governo a quer desnecessariamente sobrecarregar. Não falta quem olhe em volta e consiga enxergar usos bem mais nobres para US$ 40 bilhões de dinheiro público. É disso que se trata.

sexta-feira, 19 de março de 2010

História do Empreendedorismo no Brasil

O livro "História do Brasil com Empreendedores", de Jorge Caldeira, tem os ingredientes para ser uma daquelas obras que mudam a maneira como vemos e interpretamos a história, como aponta o artigo de Fernão Lara Mesquita, no Estadão. Em primeiro lugar, porque mostra que, no Brasil colonial, não apenas existiam empreendedores, mas como eles eram parte essencial da economia brasileira na época, refutando a tese do modelo do latifúndio escravocrata exportador, muito difundida entre historiadores brasileiros. Em segundo lugar, porque apresenta uma análise sobre as origens das estatolatrias de direita e de esquerda no país. Surpreendentemente (para alguns), ambas bebem da mesma fonte:

As estatísticas apresentadas no primeiro capítulo já bastariam para demolir esse mito. Em 1819 a colônia tinha 4,39 milhões de habitantes; 74,8% eram colonos e índios (aculturados) livres; 25,2% eram escravos africanos. Só 220 mil homens livres eram proprietários. Dois milhões duzentos e vinte e seis mil homens livres, 91% do total, não tinham escravos. Perfaziam 62% da população. E como havia muito poucos assalariados, conclui-se que esse contingente, que vivia para e do mercado interno, era dono de seus meios de produção. O mercado interno movimentava, nessa época, 84% do total da economia (86,7% em 2008).

"Havia, portanto, no Brasil colonial, uma sociedade aberta capaz de receber e abrigar pessoas dispostas a enriquecer (...) na qual o casamento era também um meio de ascendência (...) a maioria da população livre era constituída de mestiços."

Caldeira apresenta personagens fascinantes para apoiar essa afirmação. Mas o que há de mais saboroso no livro é a investigação da origem da ideia que, transformada numa espécie de "cláusula pétrea" de qualquer tentativa de explicação do Brasil, continua entortando o País até hoje.

Partindo da origem da fortuna dos Prados, fruto de privilégios outorgados pelo rei, Caldeira revive as reuniões na casa de Paulo, o tio intelectual que o adolescente Caio frequentava, das quais Oliveira Vianna, cujas teorias viriam, mais adiante, a inspirar o Estado Novo getulista, era o principal animador. Transcrevendo, lado a lado, trechos-chave de Evolução Política do Brasil, publicado em 1933 pelo jovem Caio, então com 26 anos, e de Evolução do Povo Brasileiro, publicado por Oliveira Vianna em 1922, Caldeira demonstra, pela palavra de ambos, que um tomou do outro, quase textualmente, os conceitos fundamentais.

Têm, portanto, raízes idênticas a estatolatria da direita e a da esquerda brasileiras.

Cruzando a data de publicação com cartas do próprio Caio, Caldeira demonstra, ainda, que, quando escreveu o livro fundador da "interpretação marxista" do Brasil, o jovem milionário paulistano nunca tinha lido Marx...

terça-feira, 16 de março de 2010

O Novo Nostradamus, Teoria dos Jogos e o Irã

Vi recentemente um documentário do History Channel que chamava Bruce de Mesquita de "o novo Nostradamus", por causa de sua habilidade em prever o futuro usando teoria dos jogos. Neste link, de Mesquita explica o que é teoria dos jogos e como usá-la para fazer previsões sobre o Irã.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O Fim do Mundo

Se existe uma certeza neste mundo é que ele irá acabar. O problema é que não existe consenso entre os cientistas sobre como isto irá acontecer. Uma explosão nuclear de uma estrela supernova? Oceanos de acido sulfúrico? Seremos engolidos por um buraco negro? Poderemos escapar para um universo paralelo (espero que não seja aquele visitado frequentemente pelo Krugman...) ou o fim da humanidade será determinado pelos terroristas nucleares? Cientistas explicam estas e outras possibilidades.

(Dica: Steven Landsburg)

terça-feira, 9 de março de 2010

Financiamento da Educação: Empréstimos Contingentes à Renda

Em vez de educação superior gratuita, por que não empréstimos contingentes ao acréscimo de renda oriundo da educação? Esta proposta é antiga - Milton Friedman discutiu o tema em 1955! - e não parece facilmente implementável, de acordo com este post de Alex Tabarrok. Mas tem uma virtude em potencial: cursos ruins deixarão de atrair alunos, melhorando a oferta de ensino superior.

Participação, Solidariedade e o Partido da Bandidagem

O partido participa ativamente na pilhagem do patrimônio público e de trabalhadores. Com sua letargia, a Justiça brasileira lhe é solidária. Gestão fraudulenta e organização criminosa são termos que somente apontam para a ponta do iceberg. O cara boa pinta não sabe de nada. Resultado: "Nunca antes na história deste país...."

A Maldição dos Recursos Políticos II

Existe vida inteligente no Senado: Marcos Mendes e Marcos Kohler, consultores legislativos do Senado Federal, explicam o recente artigo de Guido Tabelini e co-autores, que investiga a relação entre transferências intergovernamentais, corrupção e qualidade dos políticos nos municípios brasileiros, mencionado abaixo. Digno de nota é que um dos co-autores é a economista brasileira Fernanda Brollo. Trabalhos em co-autoria exploram as vantagens comparativas dos seus autores: Tabellini e Perotti entraram provavelmente com a fama (para aumentar o interesse do público alvo e a exposição do trabalho) e orientação, enquanto que o trabalho principal deve ter sido desenvolvido pela Fernanda. Existe uma outra literatura correlata sobre o tema, que chega praticamente às mesmas conclusões e atende pelo nome de "síndrome da restrição orçamentária frouxa" (soft budget constraint).

Vale a pena ler o pequeno ensaio dos Marcos. Uma excelente radiografia de como incentivos perversos geram comportamento indesejável, ajuda a explicar o excesso de corrupção no DF e em vários estados e municípios receptores de transferências, pode ainda ajudar a desenhar melhores regras para a apropriação dos recursos do pré-sal.
(Dica: Selva Brasilis)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os Universos Paralelos de Paul Krugman

O que pode acontecer quando um prêmio Nobel e colunista político dá um salto quântico do universo acadêmico para o universo paralelo da política? Pelo menos uma constante é perdida, que, no caso, é a consistência. No universo acadêmico, o que era um sólido argumento de livro texto (escrito pelo próprio Krugman) torna-se, no universo paralelo, uma bizarrice econômica (como o argumenta Dr. Paul Strangelove Krugman) .

quinta-feira, 4 de março de 2010

Democracia no Iraque: Uma Verdadeira Explosão de Votos

É o que conta a The Foreign Policy Morning Brief:

Bombings hit Baghdad as early voting starts

Top story: Twelve people were killed by suicide bombers in Baghdad today as early voting began in Iraq's parliamentary elections. 25 soldiers were also wounded in an attack on a polling station where security services were voting early.

Hundreds of thousands of Iraqis who are unable to make it to the polls on Sunday -- mostly security personnel and hospital patients -- are voting today. Turnout is high so far for the country's first full parliamentary elections since the U.S. invasion in 2003. Today's attacks follow yesterday's bombing in Baquba which killed 33.

terça-feira, 2 de março de 2010

A Maldição dos Recursos Políticos

Qual é a relação entre transferências intergovernamentais, corrupção e qualidade dos políticos? Guido Tabellini e co-autores analisam a situação de municípios brasileiros:

"The paper studies the effect of additional government revenues on political corruption and on the quality of politicians, both with theory and data. The theory is based on a version of the career concerns model of political agency with endogenous entry of political candidates. The evidence refers to municipalities in Brazil, where federal transfers to municipal governments change exogenously according to given population thresholds. We exploit a regression discontinuity design to test the implications of the theory and identify the causal effect of larger federal transfers on political corruption and the observed features of political candidates at the municipal level. In accordance with the predictions of the theory, we find that larger transfers increase political corruption and reduce the quality of candidates for mayor."