segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Que Cientistas Políticos não Vêem Que Economistas Vêem?

Último sábado assisti um programa de debates (Painel, Globo News), onde um dos debatedores era um renomado cientista político brasileiro. Me chamou a atenção um comentário que revela quão diferentes são as percepções da realidade, entre as profissões de ciência política (tradicional) e economia (convencional). O renomado debatedor argumentou, entre outras coisas, que aos Estados Unidos interessam acordos de livre comércio pois são mais competitivos em tudo, sugerindo que não era portanto da conveniência da América Latina buscar tais acordos. Aqui é que reside a divergência dessa forma de pensar com o conhecimento convencional de economia.

São dois, na verdade, os pontos de discordância. Traduzindo para a linguagem de economia, o nobre cientista político consegue enxergar vantagens absolutas mas não vantagens comparativas, coisa que, desde David Ricardo até os livros texto de introdução à economia, faz parte do arsenal explicativo dos economistas. Adicionalmente, o ilustre cientista político parece professar a idéia de que relações internacionais são um jogo de soma zero, onde os ganhos de um lado são as perdas do outro. Economistas, ao contrário, vêem comércio internacional (ou qualquer outra troca voluntária, com direitos de propriedade bem definidos) como um jogo cooperativo de soma positiva.

Essas diferentes percepções são significativas e motivam políticas praticamente antagônicas. O fato é que duas coisas conspiram contra a ciência política tradicional, pelo menos neste caso: evidências empíricas são favoráveis à interpretação de economia e, em decorrência disso, o método de economia de escolha racional está invadindo bons departamentos de ciência política mundo afora. Em outras palavras, ciência política está cada vez mais parecida com economia convencional. Pena que profissionais influentes permaneçam imunes à esta mudança de paradigma, pois, caso contrário, a qualidade de nossas discussões e políticas poderia sofrer um ganho substancial.

Economia Monetária e Economia Política

Duas boas dicas de leitura do De Gustibus: Economia Monetária com Affonso Celso Pastore e Economia Política com Marcelo de Paiva Abreu.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Porque a Esquerda Deve Adotar o Liberalismo

O importante economista italiano Alberto Alesina explica: "Anti-reformistas na Europa dizem estar protegendo os fracos e os pobres. Nada poderia estar mais longe da verdade. Flexibilização do mercado de trabalho, desregulação da indústria de serviços, reformas na seguridade social e maior competição na alocação de recursos às universidades pode prejudicar os interesses dos cidadãos privilegiados e bem-conectados, mas abre oportunidades para os jovens europeus e os grupos em desvantagem. Uma agenda verdadeiramente de esquerda abraçaria reformas."

O argumento completo está aqui.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

"A Amazônia é Nossa!" ou "Dormindo com o Inimigo"

Para Mr. da Silva, "o Brasil mais que todos os outros países, dá um exemplo de preservação para o mundo", a despeito das evidências contrárias. Para seu ministro do meio ambiente, Mr. Minc, além de prender os bois ilegais "temos de rezar, orar, porque queremos que o desmate caia." Nada como um pouco de fé para que as políticas surtam os efeitos desejados!

Por outro lado, a paranóia da invasão da Amazônia por estrangeiros voltou à cena. Felizmente, ergueu-se aqui uma voz sensata. Temos que rezar, orar, para que essa voz seja ouvida!

Relatório da CGD sobre Crescimento: Repercussões

No meu post anterior mencionei o report da CGD (Comission on Growth and Development). Os blogs do Dani Rodrik e do Martin Wolf discutem o diagnóstico e conclusões do referido report, além de comentarem as críticas do economista William Easterly. Apesar das discordâncias, cujo epicentro é a ênfase que Easterly dá à importância de liberdade econômica e política e a ênfase que o relatório e Wolf dão à importância do Estado engajado no desenvolvimento, me parece que eles dizem a mesma coisa: Afinal de contas, a despeito de o relatório sugerir a possibilidade de diferentes estratégias de desenvolvimento (que, diga-se de passagem, tem sido o principal argumento de Rodrik, aqui e aqui) para sobrepujar as diferentes restrições locais ao desenvolvimento, não seria o Estado engajado aquele que promove liberdade econômica e política? Nesse sentido, eu tenho que concordar com Bill Easterly: O Relatório não progride muito na questão de como conseguir tal Estado engajado.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sobre Crescimento Econômico

The Commission on Growth and Development (CGD) tem Michael Spence, prêmio Nobel em Economia, como seu presidente e Danny Leipziger, vice presidente do Banco Mundial, como vice. A CGD publicou (em 21/05/08) um relatório que procura indicar um conjunto de políticas capazes de colocar países em desenvolvimento em uma trajetória de desenvolvimento rápido e sustentável. Segundo a CGD, mercados competitivos, adesão a mercados globais, liderança, persistência e pragmatismo são indispensáveis para tal, independentemente das peculiaridades de cada país. Entretanto, essas peculiaridades chamam estratégias distintas de desenvolvimento. Para quem está preocupado com os rumos do país, vale a pena dar uma olhada.

O Dólar Não é Sorvete e Não Derrete!

Uma entrevista com um dos maiores economistas brasileiros: Affonso Celso Pastore.

domingo, 1 de junho de 2008

Deputados Criminosos: Seleção Adversa ou Risco Moral?

Segundo esta notícia aqui, quase a metade dos deputados da Assembléia do RJ já foi denunciada por diversas acusações - estelionato, improbidade e até formação de quadrilha e homicídio. Este caso é um bom exemplo de livro texto de economia dos problemas causados por informação assimétrica - seleção adversa e risco moral.

Informação assimétrica existe no caso pois o eleitor típico é racionalmente ignorante: como sabe que seu voto não decide a eleição (ou seja, o benefício esperado de qualquer decisão é praticamente zero) e ele entende que se informar melhor a respeito das qualidades dos candidatos e de suas propostas lhe é custoso em termos de tempo dispendido e dinheiro, ele decide votar sem adquirir boa informação. Adicionalmente, depois da eleição, o eleitor típico não consegue exercer influência sobre as decisões do político eleito nem tampouco fica bem informado a respeito das posições e projetos apresentados por ele. Como o político (tanto candidato quanto eleito) conhece melhor suas aspirações, qualidades morais e os grupos de interesse a quem ele serve, está estabelecido o palco para a criação dos problemas de seleção adversa e risco moral.

Seleção adversa é o problema de informação assimétrica originado aqui antes da eleição. Sabendo dos benefícios de ser eleito (legais e ilegais, morais e imorais), do pouco controle da sociedade sobre seus atos e da tal da imunidade parlamentar, o pleito atrai candidatos que já não têm as melhores das intenções. Adicionalmente, após a eleição, ocorre o problema de risco moral. Mesmo aqueles dotados de boas intenções, acabam tendo bons incentivos para trocar seus propósitos iniciais pelas oportunidades que o sistema político oferece. O resultado final é a proliferação, no mundo político, de estelionatários, fraudadores, corruptos, homicidas e narco-traficantes, com o apoio da população.

Lord Acton, quando proferiu sua famosa frase "O poder corrompe e o poder absoluto corrompe de forma absoluta" tinha uma compreensão muito sofisticada de como a estrutura de incentivos do mundo político influencia as decisões das pessoas. Da mesma forma, um dos grandes economistas do passado, Frank Knight, chegou à conclusão semelhante, comentando sobre regimes totalitários, onde a concentração de poder é máxima: "...(as autoridades)teriam que fazer essas coisas, querendo ou não; e as probabilidades de ser o poder exercido por homens que detestem a posse e o exercício do poder são tantas quanto as probabilidades de uma pessoa extremamente meiga e sensível obter o lugar de feitor de escravos numa plantação."